Comentrio: Diz o crtico Carlos Felipe Moiss que este um dos primeiros poemas em que aparece a tentativa de representar a mulher amada e a experincia amorosa como ponto de encontro entre a transcendncia e os apelos terrenos, entre esprito e matria.
Para o ideal do amor sobreviver em toda a sua fora ,as partidas, as separaes so necessrias. A melancolia essencial,mas Ausncia tambm mostra a simbiose, ou seja a fuso do eu-lrico com a amada. Essa faceta tambm aparece em A brusca poesia da mulher amada II A mulher amada carrega o cetro, o seu fastgio mximo.
A mulher amada aquela que aponta para a noite E de cujo seio surge a aurora. A mulher amada quem traa a curva do horizonte e d linha ao movimento dos astros. A mulher amada o tempo passado no tempo presente no tempo futuro No sem tempo A mulher amada a mulher amada a mulher amada Eia, a mulher amada! Seja ela o princpio e o fim de todas as coisas. Poder geral, completo, absoluto mulher amada! A mulher amada enaltecida com fervor romntico- ela rainha, pois carrega o cetro, ela faz parte da criao do universo, o poder absoluto Emblemtico o seguinte trecho: A mulher amada a mulher amada a mulher amada.
Nele a coincidncia entre sujeito e predicativo, permite inferir que o simples fato de a mulher se amada a torna um ente completo, sem necessidade de nenhum atributo , de mais nenhum adjetivo.
Observe o tema moderno da mulher que passa, inspirados em A uma passante, do francs Baudelaire. A rua em derredor era um rudo incomum, Longa, magra, de luto e na dor majestosa, Uma mulher passou e com a mo faustosa Erguendo, balanando o festo e o debrum; Nobre e gil, tendo a perna assim de esttua exata.
Eu bebia perdido em minha crispao No seu olhar, cu que germina o furaco, A doura que embala e o frenesi que mata.
Um relmpago, e aps a noite! Area beldade, E cujo olhar me fez renascer de repente, S te verei um dia e j na eternidade? Bem longe, tarde, alm, jamais provavelmente! No sabes aonde vou, eu no sei aonde vais, Tu que eu teria amado e o sabias demais! Para alguns estudiosos, o poeta acima precursor da poesia moderna, pois expressa a influncia do mundo urbano, com suas relaes efmeras e superficiais.
Dele decorrem duas obras primas vinicianas. Seu dorso frio um campo de lrios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanas na boca fresca! Por que no voltas, mulher que passas? Por que no enches a minha vida?
Por que no voltas, mulher querida Sempre perdida, nunca encontrada? Por que no voltas minha vida? Para o que sofro no ser desgraa? Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora A minha amada mulher que passa! Que fica e passa, que pacifica Que tanto pura como devassa Que bia leve como a cortia E tem razes como a fumaa. A outra Balada das meninas de bicicleta Balada das meninas de bicicleta Meninas de bicicleta Que fagueiras pedalais Quero ser vosso poeta! Que lindas so vossas quilhas Quando as praias abordais! E as nervosas panturrilhas Na rotao dos pedais: Que douradas maravilhas!
Bicicletai, meninada Aos ventos do Arpoador Solta a flmula agitada Das cabeleiras em flor Uma correndo gandaia Outra com jeito de sria Mostrando as pernas sem saia Feitas da mesma matria. A vs o canto que inflama Os meus trint'anos, meninas Velozes massas em chama Explodindo em vitaminas.
Bem haja a vossa sade humanidade inquieta Vs cuja ardente virtude Preservais muito amide Com um selim de bicicleta Vs que levais tantas raas Nos corpos firmes e crus: Meninas, soltai as alas Bicicletai seios nus!
No vosso rastro persiste O mesmo eterno poeta Um poeta essa coisa triste Escravizada beleza Que em vosso rastro persiste, Levando a sua tristeza No quadro da bicicleta. Comentrio O poema Balada das meninas de bicicleta pertence 2 fase de Vinicius de Moraes. Quanto forma, destaca-se o uso de vocabulrio simples e cotidiano e versos curtos.
Quanto ao contedo, pode-se apontar o tema do cotidiano, em que se descrevem simplesmente meninas andando de bicicleta, e o erotismo com que esse mesmo fato visto pelo eu lrico. Neste poema, o eu lrico usa a metalinguagem para se referir ao prprio poema e ao papel do poeta.
No primeiro caso, o eu lrico comenta a prpria forma do poema, a redondilha maior, forma de sete slabas poticas, afirmando que so as meninas que lhe inspiram a forma do poema. No segundo caso, o eu lrico define o poeta como algum triste e que persegue a beleza, afirmando mais uma vez que a beleza das meninas que inspiraram o poema.
Tal idealizao feminina culminar na cano Garota de Ipanema- cano mais popular do mundo. Moa do corpo dourado Do sol de Ipanema O seu balanado mais que um poema a coisa mais linda Que eu j vi passar..
Ah, porque estou to sozinho Ah, porque tudo to triste Ah, a beleza que existe A beleza que no s minha Que tambm passa sozinha Ah, se ela soubesse Que quando ela passa O mundo sorrindo Se enche de graa E fica mais lindo Por causa do amor Ptria Minha A minha ptria como se no fosse, ntima Doura e vontade de chorar; uma criana dormindo minha ptria.
Por isso, no exlio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha ptria. Se me perguntarem o que a minha ptria direi: No sei. De fato, no sei Como, por que e quando a minha ptria Mas sei que a minha ptria a luz, o sal e a gua Que elaboram e liquefazem a minha mgoa Em longas lgrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha ptria De nin-la, de passar-lhe a mo pelos cabelos Vontade de mudar as cores do vestido auriverde! Ptria minha A minha ptria no floro, nem ostenta Lbaro no; a minha ptria desolao De caminhos, a minha ptria terra sedenta E praia branca; a minha ptria o grande rio secular Que bebe nuvem, come terra E urina mar.
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa Que brinca em teus cabelos e te alisa Ptria minha, e perfuma o teu cho Que vontade de adormecer-me Entre teus doces montes, ptria minha Atento fome em tuas entranhas E ao batuque em teu corao. Agora chamarei a amiga cotovia E pedirei que pea ao rouxinol do dia Que pea ao sabi Para levar-te presto este avigrama: "Ptria minha, saudades de quem te ama Vinicius de Moraes.
Entretanto,como sempre fez no decorrer de sua obra potica, Vincius retoma a herana esttica para imprimir nela uma marca prpria. A estranha frase inicial-A minha ptria como se no fosse- em que falta o predicativo do sujeito, significa a recusa dos adjetivos altissonantes que cristalizaram ao substantivo ptria. Em vez disso, ele assume um tom de afetividade, com abundantes diminutivos, tratando sua terra como uma criana, em um processo conhecido como prosopopia, personificao ou antropomorfizao.
Entretanto ,essa viso edulcorada no impede o poeta de enxergar os problemas sociais. Confirma esse aspecto a referncia ptria to pobrinha. Por isso, deve ser ressaltado, que, apesar de pertencente segunda fase potica de Vincius, em Ptria Minha ele trouxe de volta o hbito de sua fase inicial; A utilizao de versos livres extensos.
Vinicius de Moraes Balada do Mangue Pobres flores gonoccicas Que noite despetalais As vossas ptalas txicas! Pobre de vs, pensas, murchas Orqudeas do despudor No sois Loelia tenebrosa Nem sois Vanda tricolor: Sois frgeis, desmilingidas Dlias cortadas ao p Corolas descoloridas Enclausuradas sem f.
Ah, jovens putas das tardes O que vos aconteceu Para assim envenenardes O plen que Deus vos deu? Mas que brilho mau de estrela Em vossos olhos lilases Percebo quando, falazes Fazeis rapazes entrar! Sinto ento nos vossos sexos Formarem-se imediatos Os venenos putrefatos Com que os envenenar misericordiosas! Glabra, glteas cafetinas Embebidas em jasmim Jogando cantos felizes Em perspectivas sem fim Cantais, maternais hienas Canes de cafetinizar Gordas polacas serenas Sempre prestes a chorar. Como sofreis, que silncio No deve gritar em vs Esse imenso, atroz silncio Dos santos e dos heris!
E o contraponto de vozes Com que ampliais o mistrio Como semelhante s luzes Votivas de um cemitrio Esculpido de memrias! Pobres, trgicas mulheres Multidimensionais Ponto morto de choferes Passadio de navais! Louras mulatas francesas Vestidas de carnaval: Viveis a festa das flores Pelo convs dessas ruas Ancoradas no canal?
Para onde iro vossos cantos Para onde ir vossa nau? Por que vos deixais imveis Alrgicas sensitivas Nos jardins desse hospital Etlico e heliotrpico? Por que no vos trucidais inimigas? Comentrio Mangues lembram Recife. O eu potico faz uma referncia metafrica da vida das prostitutas que se embelezam inclusive mulatas pintam os cabelos de loiros para atrair rapazes.
H uma ntida comparao das prostitutas com as flores venenosas chamadas no primeiro verso de "flores gonoccitas" uma aluso gonorria. Isto pq, segundo o eu potico, tais mulheres eram transmissoras de doenas venreas.
Na ltima linha de verso h uma crtica tb aos homens que as usam tb. Era ele quem os fazia Ele, um humilde operrio, Um operrio em construo. Olhou em torno: gamela Banco, enxerga, caldeiro Vidro, parede, janela Casa, cidade, nao!
Tudo, tudo o que existia Era ele quem o fazia Ele, um humilde operrio Um operrio que sabia Exercer a profisso. Ah, homens de pensamento No sabereis nunca o quanto Aquele humilde operrio Soube naquele momento! Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava.
O operrio emocionado Olhou sua prpria mo Sua rude mo de operrio De operrio em construo E olhando bem para ela Teve um segundo a impresso De que no havia no mundo Coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreenso Desse instante solitrio Que, tal sua construo Cresceu tambm o operrio. Cresceu em alto e profundo Em largo e no corao E como tudo que cresce Ele no cresceu em vo Pois alm do que sabia Exercer a profisso O operrio adquiriu Uma nova dimenso: A dimenso da poesia.
O fragmento do poema Operrio em construo, de Vincius de Moraes, apresenta o papel do operrio na construo das coisas e a importncia da sua profisso. Meus amigos, meus irmos, cortai os lbios da mulher morena Eles so maduros e midos e inquietos E sabem tirar a volpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmos, e vs que amais a poesia da minha alma Cortai os peitos da mulher morena Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono E trazem cores tristes para os meus olhos. Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes Traze-me para o contato casto de tuas vestes Salva-me dos braos da mulher morena Eles so lassos, ficam estendidos imveis ao longo de mim So como razes recendendo resina fresca So como dois silncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena Livra-me do seu ventre como a campina matinal Livra-me do seu dorso como a gua escorrendo fria. Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena Reza para murcharem as pernas da mulher morena Reza para a velhice roer dentro da mulher morena Que a mulher morena est encurvando os meus ombros E est trazendo tosse m para o meu peito.
Meus amigos, meus irmos, e vs todos que guardais ainda meus ltimos cantos Dai morte cruel mulher morena! A partir da leitura do poema, possvel afirmar que: a ele pertence 1 fase do poeta, com a presena de linguagem simples e forte erotismo. Em relao mulher, nesse poema, pode-se afirmar que: a ela vista de maneira espiritualizada e idealizada. Leia o poema a seguir, de Vinicius de Moraes, e responda ao que se pede. A mulher na noite Eu fiquei imvel e no escuro tu vieste. A chuva batia nas vidraas e escorria nas calhas vinhas andando e eu no te via Contudo a volpia entrou em mim e ulcerou a treva nos meus olhos.
Eu estava imvel tu caminhavas para mim como um pinheiro erguido E de repente, no sei, me vi acorrentado no descampado, no meio de insetos E as formigas me passeavam pelo corpo mido. Do teu corpo balouante saam cobras que se eriavam sobre o meu peito E muito ao longe me parecia ouvir uivos de lobas. E ento a aragem comeou a descer e me arrepiou os nervos E os insetos se ocultavam nos meus ouvidos e zunzunavam sobre os meus lbios.
Eu queria me levantar porque grandes reses me lambiam o rosto E cabras cheirando forte urinavam sobre as minhas pernas. Uma angstia de morte comeou a se apossar do meu ser As formigas iam e vinham, os insetos procriavam e zumbiam do meu desespero E eu comecei a sufocar sob a rs que me lambia. Nesse momento as cobras apertaram o meu pescoo E a chuva despejou sobre mim torrentes amargas. Eu me levantei e comecei a chegar, me parecia vir de longe E no havia mais vida na minha frente.
Rio de Janeiro, a Comente a que fase da obra de Vinicius de Moraes pertence esse poema e destaque duas caractersticas dessa fase, uma quanto forma e outra quanto ao contedo do poema. O poema pertence 1 fase da obra do poeta. Quanto forma, pode-se destacar os versos longos e a linguagemabstrata e alegrica, sobretudo com vocabulrio pertencente natureza.
Quanto ao contedo, encontra-se nesse poema a angstia do eu lrico, dividido entre o amor carnal e a sensao do pecado. Explique essa metfora e comente os sentimentos do eu lrico que ela revela. A metfora do desejo amoroso est nos elementos da natureza, principalmente na descrio do ato sexual, que sentido como atividade dos animais, como emos insetos se ocultavamno meu ouvido e grandes reses lambiam-me o rosto.
O eu lrico revela sentimentos de angstia a partir dessas metforas e, por fim, associa o gozo sexual morte, E no havia mais vida na minha frente.
Soneto de vspera Quando chegares e eu te vir chorando De tanto te esperar, que te direi? E da angstia de amar-te, te esperando Reencontrada, como te amarei? Que beijo teu de lgrimas terei Para esquecer o que vivi lembrando E que farei da antiga mgoa quando No puder te dizer por que chorei? Como ocultar a sombra em mim suspensa Pelo martrio da memria imensa Que a distncia criou fria de vida Imagem tua que eu compus serena Atenta ao meu apelo e minha pena E que quisera nunca mais perdida Oxford, a Comente o poema acima quanto forma e ao contedo tendo em vista a obra potica de Vinicius de Moraes.
O poema emquesto um soneto, forma que Vinicius de Moraes cultivou emmuitos momentos, a partir dos modelos de Cames e Shakespeare. Quanto ao contedo, pode-se destacar o questionamento acerca do relacionamento amoroso, tambm muito comum nos sonetos do poeta. O ttulo do poema Soneto de vspera, relaciona-se angstia sentida pelo eu lrico ao antecipar a volta da mulher amada que estivera longe.
Dessa maneira, ele mostra-se aflito por perceber que se acostumara ausncia e por no saber o que sentir na presena da mulher amada. O soneto demonstra uma caracterstica marcante da obra de Vinicius, sobretudo do soneto, emque a relao amorosa analisada em suas contradies. A rosa de Hiroxima Pensem nas crianas Mudas telepticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas clidas Mas oh no se esqueam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditria A rosa radioativa Estpida e invlida A rosa com cirrose A anti-rosa atmica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada Comentrio: Numa postura humanista, em que cria figuras com fortes tintas, o poeta canta contra a guerra.
Usando o verbo "pensar" no imperativo "pensem" , "convida-nos" a todos a refletir diante das atrocidades causadas pela guerra; e, principalmente, a causada pelo mais novo rebento gerado pelo ser humano: a bomba atmica. A culpa no apenas de um indivduo ou outro. A culpa, a responsabilidade da destruio no de um pas X ou Y, mas de toda a humanidade. O que est em jogo aqui a prpria existncia, ou melhor dizendo, a prpria sobrevivncia humana.
Os sonetos Ao escrever sonetos, Vinicius de Moraes soma-se distinta lista de poetas que versejaram em lngua portuguesa, tais como Cames, Gregrio de Matos, Bocage, Antero de Quental, Olavo Bilac, entre outros, e que escolheram como forma de expresso esta composio potica clssica. Mas no s; o motivo de tal escolha diz muito, tambm, sobre a atitude do poeta diante do fazer potico.
Por encerrar o conceito fundamental do poema, o ltimo verso constitui o que chamamos de "fecho de ouro" ou a "chave de ouro". Tudo isso faz do soneto uma escolha formal lcida para o poeta. Porque a se observa a clareza e a conciso de linguagem, de caractersticas clssicas. Com ela, o poeta mantm a expresso de um lirismo controlado, ou seja, o sentimento e a emoo lricos contm-se nos limites do equilbrio e da harmonia.
O poeta procura atenuar os impulsos do "eu", isto , de sua subjetividade particular, em favor de uma viso impessoal ou objetiva. Da dizer que nos sonetos existe a luta de um "eu" que ama e um "eu" que raciocina. Soneto de separao De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma 1 E das bocas unidas fez-se a espuma E das mos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a ltima chama E da paixo fez-se o pressentimento E do momento imvel fez-se o drama.
De repente, no mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo prximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, no mais que de repente. Oceano Atlntico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, O emprego dessa figura de linguagem, ao longo do poema, revela as mudanas na relao amorosa que se processam de uma forma abrupta e inesperada. O poeta utiliza um outro recurso, num belssimo arranjo de antteses, para acentuar o dinamismo que caracteriza o poema: o emprego da forma verbal "Fez-se" e de sua forma contrria "desfez".
Esse dinamismo expresso no soneto revela, sob certo aspecto, a prpria inconstncia na vida amorosa de Vinicius. Vincius de Moraes. Poesia completa e prosa. Este soneto, de um poeta e compositor contemporneo, foi inserido em uma cano, e pode ser explorado para mostrar que a Literatura no estanque; pelo contrrio, seus usos atravessam pocas e movimentos histricos.
Das caractersticas de movimentos literrios citadas abaixo, indique a nica que no est presente no poema. A O poema apresenta antteses e outras figuras de estilo, tpicas da poesia barroca. B O soneto tem em comum com a poesia simbolista a expresso da realidade de maneira vaga e imprecisa, e a musicalidade, com aliteraes e assonncias. C A vertente lrica do Romantismo, com idealizao e exacerbao dos sentimentos, est presente no tratamento temtico da dor da separao.
D O poema um exemplo da perfeio formal, de rima e mtrica, muito valorizadas no Parnasianismo. E Do Modernismo, corrente a que pertence o poeta, o poema apresenta, alm da linguagem coloquial, expresses de humor. Resposta Vincius de Moraes, poeta modernista da Gerao de 30, assinalava que sua obra consistia em duas fases: a primeira, transcendental, freqentemente mstica, resultante de sua fase crist; a segunda fase assinala a exploso de uma poesia mais prxima do mundo material, com a difcil, mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos.
O tema principal desse momento foi o amor em suas mltiplas manifestaes: saudade, carncia, desejo, paixo, espanto, separao. Do amor como da serenidade. Do amor como da morte. Ilhas de gelo ao sabor das correntes Gotas de sangue sobre a neve Viemos de longe Oh, como ela era bela!
E a ela fomos e a ela nos misturamos e a tivemos Um dia mordiam-lhes o ventre, nas entranhas — entre raios de sol vinha a tormenta. Tinha nascido o poeta. Que se abram as portas, que se abram as janelas e se afastem as coisas aos ventos. Eu te fecundaria com um simples pensamento de amor, ai de mim! Agora falo eu que sou um! Pobre eu! Orvalho, orvalho! Oh, a doce tarde! Por que vens, noite? Deixa que a tarde envolva eternamente a face dos deuses Noite, dolorosa noite, misteriosa noite!
Na rua ignorada anjos brincavam de r o d a. Eu me pus a sonhar o poema da hora. Sk Vem, eu quero os teus olhos, meu amor! Viera de longe Mas, oh, saber E me pergunto: Serei vazio de amor como os ciprestes No seio da ventania? Ou serei o amor eu mesmo e a calma e a humildade eu mesmo No seio do infinito vazio? Mas oh, cerrar os olhos, dormir, dormir longe de tudo Longe mesmo do amor longe de mim!
Tristemente me brotou da alma o branco nome da Amada e eu murmurei — Ariana! E pensei: Talvez eu encontre Ariana na Cidade de Ouro! E muitas vezes o eco ajuntava: Ariana Dentro em pouco todos corriam a mim, homens varSes e mulheres desposadas Umas me diziam: Meu senhor, meu filho morre!
E eu dizia: Eu sou o enviado do Mal! Queria, meus amigos Pobre de mim, tornei-me em homem. No entanto, era mais belo o tempo em que sonhavas E escuto.. E escuto E escuto.
Choro atrozmente, como os homens choram. Poetas, socorrei-me! A mulher amada. Por isso, seja ela! Eia, a mulher amada! Teu passo arrasta a doce poesia Do amor! Dona do meu amor! Por que me arrastas? Por que me fascinas? Por que me ensinas a morrer? Que te disse a Poesia? Brilhou na tua agonia De moribundo desperto? Temeste a morte, poeta? Temeste a escarpa sombria Que sob a tua agonia Descia sem rumo certo? Como sentiste o deserto O deserto absoluto O oceano absoluto Imenso, sozinho, aberto?
Que te falou o Universo O infinito a descoberto? Que te disse o amor incerto Das ondas na ventania? Que coisas viste, poeta? De que segredos soubeste Suspenso na crista agreste Do imenso abismo sem meta?
Nem rosas para o teu sono, menino morto Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto. Abre bem teus olhos opacos, menino morto Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto. Que silentes as casas Na sombra que ali se inclina Do rochedo em miramar Eu soube te amar, menina Na praia do Vidigal Muito lutamos, menina Naquele pego selvagem Entre areias assassinas Junto ao rochedo da margem. E anseio em teu misterioso seio Na atonia das ondas redondas. Quem vai pagar o enterro e as flores Se eu me morrer de amores?
Trecho Quem foi, perguntou o Celo Que me desobedeceu? Quem foi que entrou no meu reino E em meu ouro remexeu? Quem foi que pulou meu muro E minhas rosas colheu? Quem foi, perguntou o Celo E a Flauta falou: Fui eu. Mas quem foi, a Flauta disse Que no meu quarto surgiu? Quem foi que me deu um beijo E em minha cama dormiu? Quem foi que me fez perdida E que me desiludiu? Quem foi, perguntou a Flauta E o velho Celo sorriu.
Ter paz… tenho tudo De bom e de bem Se ouvires o sino do farol das Feiticeiras, volta, pescador! Se ouvires o choro da suicida da usina, volta, pescador! Traz uma tainha gorda para Maria Mulata Vai com Deus! Ficou dormindo? Que os peitos dela parecem ondas sem espuma? Que o ventre parece a areia mole do fundo?
Que o sexo parece a concha marinha entreaberta pescador? Esquece a minha voz, pescador, que eu nunca fui inocente! Meu desejo era apenas ser segundo no leme da tua canoa Trazer peixe fresco e manga-rosa da Ilha Verde, pescador! Ah, pescador, que milagre maior que a tua pescaria! Toma castanha de caju torrada, toma aguardente de cana Que sonho de matar peixe te rouba assim a fome, pescador? Deus te leve, Deus te leve perdido por essa vida Era de madrugada. Vi-me eu menino Correndo ao teu encontro.
Eras penca de filho. Jamais Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa humilde A um gesto do mar. A noite se fechava Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa. Deixavas-te olhando o mar Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios Buscavam ilhas, outras ilhas Sim, foste descobridor, e entre eles Dos mais provectos.
Deste-nos pobreza e amor. Foste um pobre. Foste um no lado esquerdo. Mas Teu amor inventou. Doze luas voltaste. Teu olhar Vinha de longe, das cavernas imensas do teu amor, aflito Como a querer defender. Vias-me e sossegavas. Dormes, ou te deixas A contemplar acima — eu bem me lembro! Ah, dor! Como quisera escutar-te de novo cantar criando em mim A atonia do passado! Quantas baladas, meu pai E que lindas! Quem te ensinou as doces cantigas Com que embalavas meu dormir?
Calaste-te, meu pai. E depois, muitas vezes Vi-te na rua, sem que me notasses, transeunte Com um ar sempre mais ansioso do que a vida. Hoje cresceu Em membros, palavras e dentes. Deste-lhe, em tua digna humildade Um caminho: o meu caminho. Milagre de primavera intacta No sepulcro de neve Rosa aberta ao vento, breve Muito breve II Uma mulher me ama.
Na sua tarde em flor. Uma mulher me ama. IV Apavorado acordo, em treva. Sou o mar! E eu te direi: amiga minha, esquece O filho do homem O mundo parou A estrela morreu No fundo da treva O infante nasceu. A noite o fez negro Fogo o avermelhou A aurora nascente Todo o amarelou. As folhas te outonam, a grama te Quer.
Tem um poder de sossego. Que tarde que a tarde cai! Poeta, diz teu anseio Que o santo te satisfaz: Queria fazer mais um filho Queria tanto ser pai!
Voam cardumes de aves No cristal rosa do ar. Vontade de ser levado Pelas correntes do mar Para um grande mar de sangue! Havia elfos alados nos gelados Raios de sol da sala quando entrei. Infelizmente acrescentei em quilos E logo me cansei; mas as asinhas Nos calcanhares eram bimotores A querer arrancar. Oh, tu Que me violaste, negra, sobre o linho Muito obrigado, tenebroso Arcanjo De ti me lembrarei! Marina, como vais, jovem Marina Deslembrada Marina Mas Foi contigo, Suave, que o poeta Apreendeu o sentido da humildade.
Telefonava: Vamos? Inda virias. Tinhas Um riso triste. Quanta melancolia! Sou Eu! Depois pergunto se queres ir ao meu apartamento Me matas a pergunta com um beijo apaixonado Dou um soco na perna e aperto o acelerador Finges-te de assustada e falas que dirijo bem. Depois arrependido choro sobre o teu corpo E te enterro numa vala, minha pobre namorada Os acrobatas Subamos!
Como no espasmo. Aos mergulhares do bando Afloram perspectivas Redondas, se aglutinando Volitivas. O crocodilo tem um sestro De cio: guia-se pelo olfato Mas o filho pratica o incesto Absolutamente ipso-facto. Vontade de mudar as cores do vestido auriverde!
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